Monday, January 31, 2005

Movimento

O início.
A gente pula da cama cedo, começa o dia, planeja a semana, o lazer do final de semana. A gente move o mundo. Paga contas, inicia outras; reve as metas, liga ao amigo distante, enfrenta o trânsito dàs 6pm. A gente move o mundo. Busca os filhos no colégio, lê o jornal, escolhe a viagem das férias, faz a lista do mercado, do natal; confere a meteorologia. A gente move o mundo.
...

O meio.
A gente repousa até mais tarde, afinal, aposentadoria é mais lazer. Pega o dia como dá, passa pela semana sem perceber, sem notar a diferença entre a Segunda e o Sábado. A gente continua movendo o mundo.
Confere se as contas foram pagas, os poucos amigos que ainda restam para chamar, vê o trânsito dàs 6pm pela janela da sala. A gente continua movendo o mundo. Os filhos vêm com os netos nos visitar, lêem os jornais para a gente, contam das viagens de férias que estão planejando, da lista do mercado que precisam cumprir, do natal e nos avisam que é melhor calçarmos as meias pois a meteorologia indica uma frente fria. A gente continua movendo o mundo.
...

O fim.
Sem gente, o mundo pára.


Sunday, January 30, 2005

Pais e Filhos

(...) Todos os pais causam danos aos filhos. É inevitável. A juventude, como um vidro novo, absorve as marcas de quem a manipula. Há pais que mancham, pais que racham e uns poucos que esmigalham a infância de seus filhos em pedacinhos rombudos, sem nenhuma possibilidade de conserto. (...)

Os pais, raramente, libertam os filhos. Os filhos é que se libertam dos pais. Se mudam. Vão embora. As forças que os definiam - a aprovação da mãe o aceno da cabeça do pai - são compensados pela força de seus próprios talentos. É muito mais tarde, quando a pele fica flácida e o coração enfraquece, que os filhos compreendem: suas histórias, assim como todas as suas realizações, se assentam sobre as histórias e realizações de suas mães e de seus pais, pedra a pedra, sob as águas de suas vidas. (...)

(Mitch Albom - As cinco pessoas que você encontra no céu. pgs. 101 e 121)

Saturday, January 29, 2005

A Menina

Ela experimentou o chão com as pontas dos pés. Parecia mais frio que o usual. Entre os vãos da veneziana fitava a chuva e o cenário parecia ainda mais culposo. Mais solitário.
Abraçada ao Pataco, o amigo camelo, A Menina repassava o dia buscando nos detalhes “o erro”. Havia ido à escola como sempre, almoçara tudo, feito a lição e não faltara a nenhuma das atividades complementares. O banho dàs cinco, como sempre, no horário (ok, havia tomado às 5:20pm, será que a Mãe havia descoberto?). Devorara o creme de legumes com bolinhos de soja no jantar e não havia esquecido se quer de passar o fio dental antes da escovação.

Depois de repassar o dia, várias e várias vezes, A Menina, exausta, adormeceu soluçando, na esperança que ela seria “castigada” durante o sono e que na manhã seguinte, sua querida Mãe aceitaria ser novamente sua melhor amiga.

Friday, January 28, 2005

Amar é...

Levar leite quentinho com analagésico na cama para acabar com a dor de cabeça.

Thursday, January 27, 2005

Sete

Querida filha Alice,
Há dias tem chovido muito em quase todo o país. Esse Janeiro tem sido bem atípico. Mês de pouca praia e muita água. A maioria tem se queixado bastante dessa umidade sem fim, mas esse “chiado” é comum à raça humana e você, certamente, fará como todos nós assim que puder falar. Irá reclamar dos dias de sol e também dos de chuva. Do calor e do frio (bom, eu dificilmente mal digo as baixas temperaturas. Enfim...), da secura e da umidade, da ventania típica de Outono e da falta dela. Enfim, vai se tornar um “ser-reclamão” como todos nós o que, para sua segurança e tranquilidade, é muito bom, pois estará completamente adequada aos seus!

Temos tido boas notícias nesse perído: o dólar, uma moeda outrora ditadora do mundo das cifras, está perdendo seu lugar no pódio mais alto e deixando que uma nova era, a do euro, comece a despontar. O bom disso é a mudança, a expectativa do novo e como tudo que é novo, embora assuste, traz a esperança. Daí a boa notícia! Claro que já existem os ranzinzas de pouca fé dizendo que é tudo uma questão de seis por meia dúzia. Mas o fato é que, até se prove o contrário, essa é uma boa nova do período. O periódico americano TNYT sinaliza uma esperança na “terra sangrenta” com a possível saída das tropas americanas do Iraque e a retomada do comando pelo próprio povo. Ouvi rumores ainda sobre um possível acordo entre palestinos e israelenses. Espero não estar lhe dando notícias descabidas ou cheia de falsas esperanças.
Os preparativos para o Carnaval 2005 estão, como sempre, enchendo de alegria o Brasil. O governo continua decepcionando aqui e acertando ali, fazendo uns desgostarem e outros gostarem muito. Mas essa é a dinâmica, você verá. Continuamos fazendo moda muitíssimo bem, acreditando em jogos de azar, em orixás, em raciocínio lógico, em feitiço, em planilha de excel, em previsão econômica. Assistindo novela, documentário, telejornal e reality show; lendo gibis e tratados científicos; ouvindo Bach, Chico Buarque e Latino; comendo alface, arroz integral, mortadela e feijoada...

Enfim, caríssima filha Alice, nesses seus sete meses de vida, a raça humana continua como sempre e o período, como nunca, replicando a história. Atípico, por aqui, só mesmo as chuvas sem fim em pleno Janeiro. Mas para nós, a boa nova mesmo é termos o nosso primeiro verão cheio de luz e sol com você junto a nós. Crescendo com saúde e amor ao nosso lado.
Um grande beijo da sua mãe,

Lu

Tuesday, January 25, 2005

Entre amigas

Chuva fina, às vezes grossa.
Vento úmido e goteira.
Cabelos descomportados e fila.
Ar condicionado em baixíssima potência e um cigarro quase aceso em lugar público fechado.

Realmente, nada consegue estragar um ótimo bate-papo entre grandes amigas, não é mesmo?

Monday, January 24, 2005

No fio da navalha

A semana que começa. Mais um mês que vai embora. As horas que não se cansam e por isso, não param.
O “Homem do Tempo” resolveu ser cruel e deixar que os dias voassem sem rédeas sem ao menos regras.

E lá se vão...
O “Homem Medidor da Paciência”, por sua vez, não sei se por puro acasou ou por cruel ironia, resolveu me tomar como cobaia de sua lida e sem nenhuma ressalva me vigia dia-a-dia, buscando entender até onde o limite é capaz de ir.

Sem escolha, peço ao “Homem do Mundo” que esteja ao meu lado, seja meu companheiro durante o choro e ao final dele me diga num longo abraço: “você não sabia, é apenas um sonho ruim!”

Sunday, January 23, 2005

Amar é...

cobrir com uma manta quentinha enquanto a chuva "rega" a janela.

Saturday, January 22, 2005

Tudo podia ser diferente

(...) Eu era uma criança nervosa por natureza e o barulho da loja só tornava as coisas piores. Eu era pequeno demais para estar ali, entre aqueles homens praguejando e reclamando. Toda vez que o encarregado chegava perto, meu pai dizia: "Olha para baixo. Não se deixe notar." (...)

(...) Em seguida senti alguma coisa molhada em minhas pernas. Olhei para baixo. O encarregado apontou para minha calça suja e riu e os outros trabalhadores riram também. Depois disso, meu pai não quis mais falar comigo. Eu sabia que o envergonhara e imagino que, em seu mundo, eu tinha mesmo. Mas os pais são capazes de destroçar os filhos, e eu fui, de certa maneira, destroçado depois disso. Eu era uma criança nervosa e me tornei um homem nervoso. Pior de tudo, ainda mijava na cama à noite. De manhã, eu saía escondido com os lençóis sujos para lavar no tanque. Certa manhã, quanto levantei os olhos, meu pai estava lá. Ele viu os lençóis molhados e me olhou de um jeito feroz que eu jamais vou esquecer, como se desejasse poder cortar a corda da vida que existia entre nós. (...)

(Mitch Albom - As cinco pessoas que você encontra no céu, pg.41/42.)

Friday, January 21, 2005

Então é Ano Novo

O genial Drummond nos diz que a invenção do homem em dividir o ano em meses (esses em semanas e essas em dias) nos dá a dimensão do todo, a esperança do novo e a oportunidade de reconhecer o início, o meio e o fim e... mais uma vez o início, o meio e o fim... e outra e outra e outra vez .
E é assim que funciona: uma pulverizada de renovação. Mesmo que seu cabelo continue o mesmo, sua conta bancária idem e suas promessas, de novo, não sejam cumpridas. Mas, o que que tem? O que importa mesmo é a aposta, a vontade de mudar, o ânimo do início, de cheiro de casa nova, de roupa lavada e quarada ao sol!
Então é isso. Aproveitemos que ainda é Janeiro e estamos no prazo de validade para fazer valer a magia do recomeço! Feliz ano novo.