Friday, February 04, 2005

Lembranças

Deslumbrada. Era assim que se sentia a cada nova aventura pela terra de seus patrícios. Espichava os olhos na tentativa de guardar lá no fundo cada detalhe multicolorido dos campos de uva. As parreiras lhe acompanhavam por quase toda a viagem, já que as plantações cobrem a Itália desde o sopé dos alpes, no norte, até as ilhas meridionais.
Sentia-se em casa com os longos e entusiasmados acenos de íntimos estranhos, com a típica fala apressada, com os abraços sem cerimônias, com os gestos (todos os gestos do mundo cabem nos italianos!), com as sugestões imperativas, com o carinho, com os excessos, com as comidas, bebidas e até mesmo com a saudade!
Apertava-lhe o peito a lembrança do convívio de um dia com o homem da banca de frutas, saudade de horas na praça de Lucca, do melhor macarrão do mundo em Veneza... Veneza navegava em sua mente.
Uma tristeza veio não sabia bem de onde. Já não era inédita aquele tremor no peito ao ouvir o nome da entre águas, Ve-ne-za. Sacudiu insistentemente a cabeça, passou as mãos pelos olhos e fitou o jornal. Como de costume folheou os cadernos, descartou deliberadamente os de imóveis e esporte e leu, para sua surpresa e resposta, a manchete: Projeto tenta impedir inundação e possível submersão de Veneza.
Pausa.
Talvez aquela teria sido a última gôndola de suas aventuras e Veneza estaria condenada a viver apenas e definitivamente em suas lembranças.


0 Comments:

Post a Comment

<< Home